Há muito tempo, em conversas com profissionais da educação, levanto o seguinte questionamento: porque a escola existe? O objetivo sempre foi provocar a reflexão sobre o real papel que desempenhamos na sociedade. E hoje parece que essa reflexão é extremamente necessária.
Estamos vivenciando um conjunto de eventos realmente globais como a pandemia, reações ao racismo, crises humanitárias, econômicas e políticas em todo o mundo. A sociedade está sendo exigida na sua estrutura mais importante, na formação do cidadão a qual a escola é um dos participantes junto à família, grupos sociais, religiosos e comunidade local.
Mas afinal, o que é a escola? Para muitos infelizmente só visualizam as paredes, estrutura, livros, salas de aula, lousa, equipamentos e conteúdos. Mas a escola vai além disso, sendo formada antes de tudo por pessoas, sentimentos e conexões.
No atual cenário pandêmico estamos convivendo com vários setores sinalizando colapso, fechamento e ausência, mas a escola não fechou e sim encontrou caminhos para continuar, pois, no final de tudo, quem irá garantir a reconstrução do mundo serão as pessoas formadas nas escolas.
O que precisamos agora é proteger as escolas, e essa responsabilidade é de todos e não apenas de gestores e educadores. Pais e alunos precisam apoiar suas instituições de ensino e compreender que a situação atual não é apenas da sua escola, mas de todas as escolas do mundo. Não existe uma solução única, pois como falei, a escola é feita de gente e cada uma tem a sua cultura que deve ser respeitada, mas o momento exige que alguns pontos sejam flexibilizados para que a escola continue a existir.
Como especialista em tecnologias educacionais, tenho a convicção de que a forma como a tecnologia entrou no cotidiano das escolas nos últimos meses não foi feita da maneira devida visto a urgência do momento, mas ainda está em tempo de corrigir o percurso para pais, alunos e professores. Entretanto, o que foi realizado foi incrível e, para efeito de comparação, imagine como seriam as aulas se estivéssemos com o atual cenário de crises mundiais mas na época em que as tecnologias móveis e a internet não existiam. O ensino remoto como vivenciamos seria totalmente inviável, independente da classe social ou localização geográfica.
Existem danos no que está sendo vivenciado e mesmo com as medidas adotadas, precisaremos trabalhar muito nos próximos anos para além de conteúdos, reconstruir pessoas. Entretanto, se não tivermos o mínimo de interação entre alunos e escolas, mesmo que por uma pequena tela, poderemos ter um futuro sem alunos, aprendizes e sem a percepção de comunidade, extremamente importante para o mundo hoje.
Além do hoje, proponho a reflexão sobre o amanhã com a pergunta: porque a escola existe? Afinal, dentre todos os seguimentos econômicos, e aqui destaco que mesmo a educação pública é um investimento e assim tem profundo impacto na economia, o setor educacional está envolvido nos aspectos de crescimento de qualquer país. Neste último ano, as crianças e os jovens talvez não tenham aprendido tudo sobre conteúdos curriculares, mas aprenderam sobre conteúdos vivenciais, se adaptaram a situações e tiveram de obter respostas rápidas em novos ambientes assim como habilidades importantes no mercado de trabalho independente da função ou área.
Os alunos tiveram contato com situações problema na escola que realmente se conectavam com o mundo, descobrindo muito sobre a necessidade de convivência e aprendizado constante, rompendo em muitos casos com a percepção de conforto em especial com relação à tecnologia.
No dia de hoje a escola, reforço mais uma vez feita por pessoas, precisa refletir sobre o planejamento e o sentido do seu trabalho analisando onde deverá dedicar energia no curto prazo e como irá se transformar para acolher o novo normal e formar os futuros cidadãos que a sociedade precisará para reconstruir o mundo. Perguntas importantes a serem respondidas seriam: Quais as novas habilidades a sociedade irá demandar dos alunos? Como será a aula após o fim das restrições sanitárias? Como ficará a presença da tecnologia no cotidiano escolar? Quais pontos devem estar presentes na formação dos professores a partir de agora?
Por fim, parabenizo essa gente que no último ano assumiu a linha de frente para cuidar de 1,5 bilhão de futuros que estão sendo impactados no mundo, sonhos e projetos de vida. Essa gente que está organizando aulas online, aprendendo sobre novas ferramentas, atendendo aos telefones nas escolas, cuidando dos prédios para que os alunos possam retornar, pensando em como apoiar as famílias, buscando os alunos que se desconectaram, cuidando da saúde emocional das equipes educacionais e famílias, atendendo as reclamações da comunidade escolar, pensando em diferentes cenários, planejando avaliações e formas de recuperar o aprendizado, formando professores, reagindo a atuações governamentais de última hora, apoiando quando perdemos alguém da comunidade ou simplesmente ligando para desejar feliz aniversário. Sendo assim, parabenizo a escola, escola feita de gente, sentimento e futuros.
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